Casa das Artes do Porto
20 desenhos (30 x 40 cm cada)
Esta série de vinte trabalhos sobre papel resulta de uma articulação entre a pintura, o desenho e a cenografia. Seguindo uma técnica de velamento e desvelamento de uma superfície que é dada como ecrã onde, numa última fase do trabalho, alguns indícios de formas são desenhados, pretende-se assim uma interpretação da situação em que o observador vê o que nesse pequeno ecrã é projetado. Se numa primeira fase do desenho se tem a preocupação de situar o olhar num cenário seguindo uma preocupação cenográfica, numa última fase do desenho constrói-se a narrativa que nesse cenário decorrerá. As formas (ou os indícios de formas) são assim os figurantes das narrativas que nesse cenário decorrerão. Tem-se, de qualquer modo, o cuidado de não dar a entender absolutamente o que as formas representam, não podendo dizer-se absolutamente que são personagens. Mas de acordo com uma fenomenologia que decorre enquanto processo de uma possível narração (ou argumento), é do exercício das sensações que vibram em cada uma desse pequenos ecrãs que as acolheu que se trata. Aqui são as sensações (as linhas e as cores em interação com a sombra do lugar onde são experimentadas) que se tomam como fenómenos-protagonistas da história que cada observador viverá sensorialmente. É a partir da sua colocação numa situação-lugar-sombra que a luz e a cor, enquanto fenómenos primários articulados, se prestam a contracenar.
João do Vale, 11 de Janeiro de 2015
catálogo [s.n.t.]